sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Você será sempre uma saudade no meu coração.

O que eu era, o momento que eu estava vivendo, os dias que caminhei por você sem nada na mente que não a certeza de que dali em diante o caminho teria de ser apenas de subida.

O que experimentei, as madrugadas que virei, os passos que dei. Lembrar de você me traz contraditoriedade, porque eu amo o que você foi, mas sofro tua ausência.

Eu que parti, mas é como se você fosse uma ausência em mim. É como se você tivesse me deixado. É como se você tivesse ido buscar novos horizontes enquanto eu fiquei "aqui". Mas fui eu quem parti. Eu teria ficado pra sempre. Eu teria cheirado suas flores e chorado às margens do seu rio pra sempre.

Eu teria pegado mil trens e pedalaria mil horas apenas para permanecer no mesmo lugar, na mesma paz que você me trouxe. Você lavou de mim o que eu estava guardando de ruim. Você só estava parada, mas fez tudo.

Removeu dores e renovou esperanças, me acolheu, soprou ventos gelados que me disseram que havia muito mais por aí.

Me presenteou com pôres-do-sol espetaculares, luares inesquecíveis e neve num difícil domingo de manhã. Você encheu minha vida com a sua beleza, me deixou a 10 mil quilômetros de distância de tudo. Você me acompanhou e permitiu que eu não me sentisse sozinha. Eu sei que foi você, porque em qualquer outro lugar teria sido diferente.

Seu ar preencheu meus pulmões com esperança, oxigenando força pro meu coração bater de novo. E tem batido desde então. E entre cada batida é uma saudade.

É isso, uma cidade que virou saudade.

Tu me manques, Paris.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

We almost died.

I almost died.

É louco como as coisas acontecem nas nossas vidas. Em um momento estamos caminhando, levando de forma cotidiana o que não poderia ser mais normal e... bum. Explosão, destroços, pedaços por aí. É como cair num buraco e continuar caindo por um tempo.

Você está lá, distraído, tropeça. Buraco, loucuras, insanidades, incertezas, incompreensões e o tempo passando por você que está... em queda. Plena queda. E você atinge o fundo do poço e não entende how the fuck did you get there. É, eu sei, é muito doido.

I almost died.

Eu estava permanentemente em um estado de constância, dentro de um padrão extremamente aceitável e tranquilo de normalidade. Ah, a normalidade, esse estado da alma tão subestimado. É bom saber onde se está pisando, é bom dormir e o sonho mais estranho que você já teve ser um coelho gigante da Duracell correndo atrás de você. É bom.

 É bom mas não é eterno, porque o movimento da vida é mesmo um gerador de caos. Invariavelmente, no meio dessa zona de 7 bilhões de pessoas é improvável sairmos ilesos, chegarmos e partirmos em ritmo constante. Eu diria que é impossível. Invariavelmente esbarramos por aí, tropeçamos e caímos no tal buraco infinito. E enquanto você cai, parece só isso, infinito.

I almost died.

Não existe nada e nem ninguém além de você vendo o chão ficar mais perto e a luz ficar mais longe. Existem vozes distantes, isso existe, mas é só. Não tem corda, não tem escada, não tem porra nenhuma. Porra nenhuma, só você se fodendo muito (e a perspectiva de um dia parar de se foder).

Aí você atinge o chão. Puta merda, a gente nunca acha que vai chegar lá. É inóspito, é o "aconteceu com o filho fa vizinha", é distante de nós. E então estamos lá.

Aí você se percebe muito fodido mesmo, não tem saída, o lugar é escuro e sujo pra cacete e o pior é que você tá tão ferrado de ficar tanto tempo caindo que nem pensa em imaginar uma forma de se levantar de lá. E por um tempo você fica.

No tempo que você fica, é insano como nada mais parece fazer sentido. O que as pessoas falam, o que você sempre fez e até o que você sempre sentiu, vira tudo tão... desconectado. Sei lá, só sei que foi assim.

E é incrível como nem essa merda de fundo do poço é uma parada na qual dá pra confiar. O tempo vai passando e, mesmo que você não queira, você mesmo se vê enfiando o que te restou de unha na parede pra subir. E vai na fé, mesmo sem saber que caralhos você está fazendo. E você chega lá, na luz.

Essa luz não quer dizer merda nenhuma, sabe, e ao mesmo tempo que não tá dizendo merda nenhuma, ela não faz sentido algum, também. Você olha em volta, não lembra de como vivia sua vida de antes, não sabe muito bem como agir, pra onde ir. E o mais engraçado é que uma das coisas que mais ouvimos na vida é "se joga". Faz o que to te falando: amarra uma corda bem filha da puta em volta de você e não larga NUNCA. Se jogar é a pior merda que você pode fazer, porque é bem capaz de você se jogar num desses buracos e ficar lá. É assim que acontece.

E por mais que eu esteja continuando a escrever esse texto só um tempo depois (que eu nem lembro quanto é), é incrível o quanto isso faz mesmo sentido. Segura nessa corda, porque eu não segurei e... I almost died.
I've been so angry. So angry all the time.

É quase como se quando eu sentisse raiva fosse a única hora que me sinto viva de verdade. Parece o único sentimento real, intenso e que invade meu corpo inteiro.

Explode por dentro e vaza pela respiração, pelo sangue entrando e saindo forte pelo coração, explode na boca com palavras nervosas.

Simplesmente explode. A calma, estar serena, tranquila, parece que é quase um estado de letargia. Parece, não. É. Uma total e completa letargia. É de ver as coisas acontecendo, a vida seguindo e não sentir absolutamente nada.

Os sensos parecem que só acordam na raiva, quando tudo fica agitado, quando eu respiro.

I've been so angry.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Set the alarm before you go

Eu gosto de tudo que faz menção a sair do lugar onde estou.

Desde criança um dos meus maiores sonhos era aprender a dirigir. Quando fiz 18, mal podia conter a ansiedade. Sempre amei aviões, carros, motos de certa maneira. Qualquer coisa que significasse movimento, ir embora.

Aeroportos, então, como os amo. Sinto dentro de mim uma completude, a possibilidade de ir pra qualquer lugar, partir. Dirigir na estrada ou até mesmo em alta velocidade na ruas, qualquer coisa que me dê a sensação de estar fugindo.

A caminho de casa pego uma BR. É sempre uma tentação continuar dirigindo, não entrar no retorno, apenas seguir em frente. Já cheguei a passar três retornos por causa dessa vontade incontrolável de apenas ir embora.

Dezembro de 2011 eu fui embora. Por muito pouco tempo, mas eu fui. E eu nunca descobri tantas coisas a respeito de mim em tão pouco tempo quanto nessa distância. Eu sou mais forte e tenho mais na minha alma do que eu imaginava. 

Voltei a escrever, descobri novos sentimentos e um novo pedaço de mim, feito de pele morta do passado, começou a nascer.

Eu voltei e hoje é sempre uma dor olhar as fotos da vista da janela, a sensação de liberdade, estar a 10.000 km das raízes. A 10.000 km de qualquer coisa que me fosse familiar. É sempre uma dor essa saudade apertada que invade o peito.

E mesmo que hoje seja um nó que trago na garganta, é também um movimento que minhas pernas aprenderam. Uma rota de fuga que aponta sempre pra "ir embora". Está nos espasmos dos músculos, entre cada batida no coração e no meio de meu every thought.


Um dia... um dia eu vou embora. De vez.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"And now you've simply got to ask yourself this: What is happiness to you, David?"







Sempre tive uma maneira muito forte de sentir as pequenas coisas. Por toda a minha vida estive regularmente inventando histórias e as vivenciando como totalmente reais. E quantas vezes isso já me salvou... me salvou de imensuráveis solidões, de vastas dores, de grandes faltas. Tanto que nem lembro de ter chegado a sentir de verdade qualquer uma dessas coisas. Sempre fui salva por algum rosto bonito que, na vida real, nunca passou de apenas um estranho. Mas, pra mim, esse rosto era um relacionamento inteiro. A minha imaginação me levava pra tudo que esse relacionamento trazia e por este ínterim eu não estava sozinha ou sofrendo. Eu estava num mundo à parte. Talvez nunca realmente pensar no que eu estava passando é que tenha me salvado.

Eu sempre me senti acompanhada na minha solitude. Sempre senti que eu e minha cabeça éramos inestimáveis companheiras, indissolúveis, inatas, verdadeiramente sinceras uma com a outra. É incrível esse sentimento de cumplicidade consigo mesmo. Há sempre quem me socorra, quem me compreenda, quem diga exatamente o que eu preciso ouvir. Sou eu. E sou eu a única quem precisa acreditar nas histórias que eu invento. Pode até ser a little bit childish, mas é uma forte viagem interior. E ultimamente, mais do que nunca, eu tenho me fechado nas minhas histórias e na minha auto-salvação. Tenho me recolhido nos meus dramas particulares. Tenho fugido de tudo quanto é mundo real pra poder me proteger. Tenho evitado, tenho desviado o olhar, tenho andado de cabeça baixa. Acho que estou tentando me fortalecer. Acho que estou tentando... me reencontrar. Sem nunca ter realmente me perdido, I guess. Mas mais do que nunca me sinto num daqueles passeios solitários pela praia no cair da noite, sabe? No vento gelado que bate nas suas dores. E eu as tenho, as dores. Eu tenho esses desejos do meu coração que me consomem cada dia um pouquinho. Já escrevi sobre isso, quando eu tinha 16 anos. É bem do meu feitio querer comer o futuro com uma dentada, tudo junto, wanting it all. Eu vejo as coisas que combinam certinho com meu jeito de amar, de ver as coisas, de sentir, de ser e eu intensamente as desejo. Eu desejo botar um pouco disso tudo pra fora. Dói muito explodir por dentro em tantas sensações e vontades. Ser feliz dói. Dói porque não cabe em si, nem todo mundo sabe entender e nem todo mundo consegue dividir com você. Nem todo mundo consegue te observar e saber do que você gosta exatamente, do que mexe com seu coração, do que te lembra do que um dia você já foi.

Eu sinto falta de um olhar que me perfure a alma. Pode ser de qualquer um. Qualquer um que, do nada, me jogue um detalhe meu sobre o qual apenas eu sei. Olha aí, é tanta coisa dentro de mim agora que nem mais escrever linearmente eu consigo. Só preciso dizer mais isso: eu tenho cavado fundo pra voltar a mim. Sinto muito minha falta. É isso. Eu sinto muito minha falta e eu fico me procurando em todos os lugares. E me enche os olhos de água me encontrar, encontrar meus pedaços, meus pequenos detalhes, tudo que me faz ser eu.

It's been a brilliant journey of self-awakening.

domingo, 15 de agosto de 2010

It was Sofia who never fully recovered.And like u,she never forgot that 1 night where true love seemed possible

Eu nunca sei para onde fugir quando esse sentimento me invade. Na maior parte do tempo sinto como se eu vivesse para contê-lo, para fingir que ele não está lá, para forçá-lo a voltar para o lugar ao qual ele pertence: the back of my memories. Mas tem aqueles momentos, em maioria aqueles nos quais estou revirando os destroços, em que não consigo segurar. Usando de uma metáfora bem conveniente, é como uma barragem tendo seus limites de capacidade ultrapassados. Então abrem-se as comportas e há uma violenta invasão, destruindo tudo pelo que passa. O que foi lentamente construído a fim de que ela não mais retornasse se torna "effortless dust" diante de tanta violência. É assim que eu me sinto, "effortless". E também "helpless". Talvez mais alguns "less" que não verdadeiramente me acometem agora. Pensar que eu também já não sou a mesma pessoa também me perturba um pouco. E a plena consciência durante todo esse tempo... simplesmente me arrasa. It crushes me. Me joga contra as paredes esmagando meus ossos, o que eu deveria ter de mais forte. Forte. Eu nunca consigo ser forte nessas horas. É como se eu fosse uma massa amorfa, jogada ao léu, ao que estiver ali pra me moldar ou me atingir. There's no filter.

Quisera eu conseguir explicar como tudo isso é sentido. A intensidade, a força, a plenitude e, novamente, a violência. Violência, violência, violência. Essa palavra não será repetida vezes o suficiente de maneira a satisfatoriamente explanar a força que isso tem. E as músicas? Proibidas, totalmente. Isso se eu quiser manter um pouco de sanidade, de normalidade, de tranqüilidade. Essas palavras sempre entram num grupo. "Less", "ade". Essas notas eletrizam meu cérebro que sofre com tantos choques. Sabe como? Quando uma coisa te atinge com tanta repentina força que chega a dar um choque estranho na sua cabeça? Avalanche. I remember it all. Me levam de volta e, de repente, "it's that time of the year". Aquele frio de ventos gelados e um sol maravilhoso no céu. O sol batendo naquele específico ponto do quarto. Os pensamentos. "Oh, it's that time of the year", sempre fazendo aniversário. E nada nunca se equipara. Ninguém se equipara. A intensidade não se aproxima, a sinceridade resta intocável. Is that even possible? Aliás, existe esse sentimento? Ou sou só eu com esse fantasma que, a cada ano que se passa, sussura maliciosamente no fundo da minha mente "não foi como eu fui, não é?". Realmente, não foi. E eu continuo esperando que seja, doing my best. SEMPRE dando meu melhor, but it's never enough. Ça ne suffit pas. O clima é sempre igual, o céu é sempre igual, a posição do sol é sempre igual, mas as pessoas não. As circunstâncias não. O ano não. Eu não. Eu nunca mais terei aquela idade e isso nunca realmente me incomodou até o dia em que parei pra pensar que, meu Deus, já faz anos. E só se distancia. E só se torna mais difícil. Que época superará? Que época me salvará disso tudo? Será ela também un autre fantôme? Fantôme. Toujours derrière moi, en se cachant, en se riant de moi et de mes silly, silly pensées. Toujours. E a mais dolorosa dor foi sempre saber, sempre ter a vívida consciência de que era um "ticking clock", que era só uma questão de tempo para que tudo, quase tudo fosse arrancado de mim, quase como me enxotando com uma mão e com a outra segurando tudo que já tive e dizendo "soit disparue, move on, vá prosseguir com a sua vida!". Herz voll von Zweifeln. Eu lembro de cada sensação e de tantos pensamentos... lembro de muitas vezes ter silenciosamente observado meus amigos que não se davam conta do que estava passando por eles. Na velocidade da luz. Lembro do quanto lhes pareceu ridícula a ideia de eu passar pela última vez pela catraca como se fosse um rito. Uma despedida. A consciência de que era pra nunca mais voltar. Que dali pra frente, never again, nunca seria o mesmo. Eu não tenho essa esperança boba de viver algo igual algum dia na minha vida. Os primeiros amigos de verdade, o primeiro amor, sem preocupações, sem ter que pensar no futuro, nada além de tardes calmas e cheias de risadas e conversas sobre assuntos que, na época, pareciam os mais importantes do mundo. As primeiras experiências de muitas coisas, aquelas que a gente vive sem o pé atrás das decepções. A maneira mais pura e livre de se vivenciar uma coisa é vivê-la pela 1a vez. Não há passado que te segure e que te impeça de simplesmente se jogar por inteiro. It haunts me from times to times. Está nas músicas, ao meu redor, nas fotos, nas conversas com os amigos que ainda mantenho, mas o pior de tudo: está nas minhas memórias. As mais vívidas possíveis.

E o pior acaba sendo que... eu era feliz. E sabia.

domingo, 27 de junho de 2010

"Those people drive you nuts"

Você está calmo e tudo caminha em seu devido lugar. As linhas são retas, precisas, certeiras, passíveis de planos seguros. Você sabe de si e entende tudo que se passa dentro do seu ser. Todos os seus subterfúgios são propositais, tudo é planejado, pensado, triturado. Tudo faz sentido, mesmo que apenas em sua lógica torta e peculiar. E então...

E então você é invadido, quebrado, analisado, posto na vista de um completo estranho. Encontra-se, então, na mira de um meticuloso olhar e de uma vontade alheia. O que te era certo hoje sopra como dúvida e então se cria o hábito de nem sempre ter certeza sobre o que se está realmente sentindo. É um viver em dias desconexos, sem que o atual reflita necessariamente o anterior. É um saltar incompreensível do coração e incompreensível porque, afinal... você não sente nada, não é?

Você acha que não sente. Aí você tem certeza que não. Aí já não tanta certeza... para, enfim, sentir. Com todas as forças, cada centímetro do seu corpo e cada pensamento seu passam pela mesma coisa, nada mais tem espaço e não há mais racionalidade. Racionalidade, perde-se toda. Procura-se, mas se esvaiu. Onde se esconde? Tava ali e num minuto desapareceu. Não sei. E eu procuro muito, desesperadamente. Mas então eu paro e olho e penso. E olho mais um pouco. E sorrio. E então já não agüento mais. E uma coisa é dita, um escorregão e tudo é ira que não se contém, raiva acumulada, uma vontade de gritar. E ali, ali no meio, um receio, uma neurose, uma complexidade. O que será que é que me atinge com tanta violência, tão freqüentemente, de forma que nem rumo eu encontro direito? O auto-controle, a certeza, a frieza, a racionalidade, a independência, a destreza, a linha reta. Como podem essas coisas tão fundamentais desaparecerem?

E é um caderno que não faz sentido, as coisas mudam como se viram as páginas. São desenhos tranqüilos e desenhos perturbados, são palavras doces e palavras frias, sensações suaves e sensações aterrorizadoras. São vales com cumes e depressões, são vai-e-voltas, REVIRAvoltas, uma desesperada necessidade de se desvencilhar e, depois, a "tímida euforia", I don't wanna let it go.

Eu escrevo, eu apago. Eu sonho, eu esqueço. Eu penso, eu redireciono. Eu sentencio, eu confundo. Eu afirmo, eu duvido. Sou ou não sou? Estou ou não estou? Quero ou não quero? É isso ou aquilo?

É amor?
É você?
Sou eu?
Somos nós?
Ou somos... nó?

domingo, 2 de maio de 2010

"So how did youget all this stuff... this apartment, this life?"






Eu tenho um carinho enorme pelo que eu já fui, quase como se fosse outra pessoa. Como se fosse uma menina da qual eu cuido muito. Como se eu fosse sua confidente e soubesse tudo a respeito de seus medos, ânsias, desejos e pensamentos malucos.

Eu lembro do seu perfume e do seu jeans favorito, já rasgado. Da sua sandália favorita, já grampeada porque arrebentou. Do seu cachecol preferido que carregava seu cheirinho. Da sua caminhada apressada, da música que a embalava, da volta pra casa. Aquele anoitecer frio, deixando a ponta do nariz gelada. Chegando em casa e renovando com o banho sua crença em si mesma. Foi nessa época que começou a tomá-lo no escuro. Assim saberia mais do que estava dentro de si do que de seu corpo, seu exterior. Assim aguçaria seu olfato pra sentir aquele sabonete de canela que usava, assim sentiria mais dentro de você a água caindo. No escuro eu sei que você sempre foi outra, se revelando nas sombras trêmulas das velas acesas. Eu sei tudo que você descobriu sobre si mesma e sobre sua força, as promessas que se fez. Eu sei dos amores que você inventou pra si, das histórias que você viveu com eles. Tudo dentro de você.

Eu sei que você estava sozinha e eu sei que você pensava muito em mim. Eu sei que você me desejava com toda a força que o seu coração encontrava pra bater. Eu sei que você me planejou e me desenhou com todo o cuidado e amor que só o que você foi aos 17 anos de idade seria capaz. Eu não me esqueço do quanto você sonhou comigo e do quanto também teve pesadelos com a possibilidade de eu nunca existir. Eu devo a você o meu presente, a minha realidade, a minha força, a minha fé, a minha vontade de continuar. Foi só porque você insistiu e, mais do que insistir, foi só porque você escolheu não desistir de lutar para que eu pudesse surgir. E eu não esqueço da dor, do cansaço, da raiva, da vontade, do desespero, da inveja, da mágoa. Do quanto demorou pra você entender.

Não me fugiu da memória sua revolucionária visão do que estava vivendo, mas eu posso ver, como você não podia, que foi isso, que você demorou pra entender. Que você só saberia quando já tivesse o que era necessário. Mas eu agradeço por, mesmo sem entender, você ter continuado. Firme, como suas idéias, doce, como seu sabonete e decidida como seus passos.

Agradeço por você ter encontrado um meio suave de batalhar pela minha vida. Mesmo sendo mais nova do que eu, você foi o essencial, o elementar, o único motivo pelo qual estou aqui hoje. E é incrível, mesmo mais nova, você foi capaz de trazer algo mais pesado, mais denso e mais complexo do que você. Entendo o peso que tudo isso era. Eu te entendo e te guardo. Eu te cuido nas lembranças, porque eu sei que é ali que você vive hoje. Ali e na base de todas as minhas escolhas.

Foi no dia 09/01/2009 que você se foi e cedeu seu lugar pra mim. Mas fique tranqüila, porque tudo que faço é pensando em nunca decepcionar seus desejos mais profundos. Você conseguiu, agora eu estou aqui. Prometo honrar sua vitória.

Veja só, Poliana, como você cresceu.

terça-feira, 6 de abril de 2010

"The little things... there's nothing bigger, is there?"




Um dia que nasce pra ser feliz. E, atenção, não aquela felicidade demente, que todo mundo busca e reclama por não encontrar, aquela abobada. Porque ela existe e bota em mim uma preguiça descomunal. Falo mesmo é da felicidade natural que me acomete num despertar suave, sentindo o quentinho que meu corpo deixou no lençol ao apertar os joelhos contra o peito. Aquela felicidade sonora vinda da chuvinha suave que anuncia uma manhã preguiçosa, que até convidaria a dormir mais um pouquinho se o sono já não tivesse sido deliciosamente "saciado". E então um levantar não, assim, forçado, mas sim que parecia ser simplesmente o passo mais óbvio. Checar a temperatura da água e sorrir de leve ao constatar 45oC. "Será uma maravilha de banho!". E então acender as velas que iluminam o que as primeiras horas da manhã não conseguem e preencher o olfato com aquele cheirinho doce de baunilha que espalham as chamas no derreter da cera. Água quentinha acalmando o corpo, preparando a alma, lavando os sentidos e o sabonete com cheirinho de pitanga perfumando a pele. Toalha branquinha e fofinha, cuidar do rosto, passar creme que tem essência de abraço, borrifar o perfume de notas quentes. E é, de fato, como ser abraçada. Na hora de vestir, as botas e o casacão, por baixo a regatinha com cheiro de roupa nova, o cabelo preso meio caindo. Na cozinha, a surpresa: café no chão. No desastre, outra surpresa, só que boa: o que tinha no bule era exatamente a quantidade pra completar o copo que já tinha leite. Hmmmmmmm, que cheirinho bom! No carro, todas as faixas favoritas de John Mayer, a voz delicada à sua própria maneira, as notas gostosas de guitarra suave que embalam uma vida. Guarda-chuva azul pra ilustrar um céu que se esconde atrás do cinza, foi comprado desta cor por este exato motivo. Chegar na faculdade, rir com os amigos, tomar o café quentinho, quentinho, descendo pela garganta quase que fazendo carinho. Então uma cadeira com o caimento, a luz e o conforto exatos, aulas passando rapidinho, conseguir prestar atenção (e entender!) à Filosofia. Chegar em casa e cheirinho do feijão da mamãe, encher a barriga de amor. E então me deitar naquela mesma cama da manhã, me embalar com cobertor e conseguir estudar com a fluência que o dia já tinha como característica. Presentinho via correio, revista nova, um elogio muito doce. E, mais do que tudo citado, a graça de notar tudo isso. A graça de ter um coração sensível e a gratidão pelo tato, olfato, visão, paladar. Minha gratidão pela vida é traduzida dessa maneira: notando-a.

E como é gostoso senti-la sorrir de volta por isso. ;)


domingo, 28 de fevereiro de 2010

She could be - could be, could be, could be - the girl of my fucking dreams


Do you know what loving a city is really like?

It's like loving someone you can't hold. It's like walking around your lover's body. It's like being inside the one you love. It's like leaving and coming back with a strange certainty in your heart.
I never knew what really loving a city was like 'till I could get a glimpse of it. Miles away from the ground, faster than the fastest man alive, I saw it for the first time. I had a song in my ears, wich mixed in such a way with the moment that I could tell I was in complete silence. I never believed in love at first sight. I never really thought this possibility laid before me until I met it. There it was, invaded by a bright and intense sunlight. It was like if I was meeting a great piece of my future. It was like watching a part of my life, my future life, gaining a scenario. I never thought that a city could take place in my heart like it did. I never thought I would feel home in a place that wasn't actually home. I felt that my soul was in the right place, with the same vibrations that go on inside of me. I felt in love. It's more than passion. It's a feeling of free possession. It's like knowing it's only yours at the same time that it belongs to millions of other people. No jealousy, no anger, but a lot of missing. A lot of dreaming and fantasizing about the day I'll be able to come back, to feel it's air blowing gently in my face, showing that I'm surely loved back. That's what's beautiful about it, it always loves you back. It's the capital of the possibilities, where you feel that everything - I said everything - is possible. I'll never forget it or what it brought to me. I'll always carry with me the will to see it again, to feel I'm a part of it again.

I know you'll think I'm crazy, but... New York, I love you!