sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Você será sempre uma saudade no meu coração.

O que eu era, o momento que eu estava vivendo, os dias que caminhei por você sem nada na mente que não a certeza de que dali em diante o caminho teria de ser apenas de subida.

O que experimentei, as madrugadas que virei, os passos que dei. Lembrar de você me traz contraditoriedade, porque eu amo o que você foi, mas sofro tua ausência.

Eu que parti, mas é como se você fosse uma ausência em mim. É como se você tivesse me deixado. É como se você tivesse ido buscar novos horizontes enquanto eu fiquei "aqui". Mas fui eu quem parti. Eu teria ficado pra sempre. Eu teria cheirado suas flores e chorado às margens do seu rio pra sempre.

Eu teria pegado mil trens e pedalaria mil horas apenas para permanecer no mesmo lugar, na mesma paz que você me trouxe. Você lavou de mim o que eu estava guardando de ruim. Você só estava parada, mas fez tudo.

Removeu dores e renovou esperanças, me acolheu, soprou ventos gelados que me disseram que havia muito mais por aí.

Me presenteou com pôres-do-sol espetaculares, luares inesquecíveis e neve num difícil domingo de manhã. Você encheu minha vida com a sua beleza, me deixou a 10 mil quilômetros de distância de tudo. Você me acompanhou e permitiu que eu não me sentisse sozinha. Eu sei que foi você, porque em qualquer outro lugar teria sido diferente.

Seu ar preencheu meus pulmões com esperança, oxigenando força pro meu coração bater de novo. E tem batido desde então. E entre cada batida é uma saudade.

É isso, uma cidade que virou saudade.

Tu me manques, Paris.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

We almost died.

I almost died.

É louco como as coisas acontecem nas nossas vidas. Em um momento estamos caminhando, levando de forma cotidiana o que não poderia ser mais normal e... bum. Explosão, destroços, pedaços por aí. É como cair num buraco e continuar caindo por um tempo.

Você está lá, distraído, tropeça. Buraco, loucuras, insanidades, incertezas, incompreensões e o tempo passando por você que está... em queda. Plena queda. E você atinge o fundo do poço e não entende how the fuck did you get there. É, eu sei, é muito doido.

I almost died.

Eu estava permanentemente em um estado de constância, dentro de um padrão extremamente aceitável e tranquilo de normalidade. Ah, a normalidade, esse estado da alma tão subestimado. É bom saber onde se está pisando, é bom dormir e o sonho mais estranho que você já teve ser um coelho gigante da Duracell correndo atrás de você. É bom.

 É bom mas não é eterno, porque o movimento da vida é mesmo um gerador de caos. Invariavelmente, no meio dessa zona de 7 bilhões de pessoas é improvável sairmos ilesos, chegarmos e partirmos em ritmo constante. Eu diria que é impossível. Invariavelmente esbarramos por aí, tropeçamos e caímos no tal buraco infinito. E enquanto você cai, parece só isso, infinito.

I almost died.

Não existe nada e nem ninguém além de você vendo o chão ficar mais perto e a luz ficar mais longe. Existem vozes distantes, isso existe, mas é só. Não tem corda, não tem escada, não tem porra nenhuma. Porra nenhuma, só você se fodendo muito (e a perspectiva de um dia parar de se foder).

Aí você atinge o chão. Puta merda, a gente nunca acha que vai chegar lá. É inóspito, é o "aconteceu com o filho fa vizinha", é distante de nós. E então estamos lá.

Aí você se percebe muito fodido mesmo, não tem saída, o lugar é escuro e sujo pra cacete e o pior é que você tá tão ferrado de ficar tanto tempo caindo que nem pensa em imaginar uma forma de se levantar de lá. E por um tempo você fica.

No tempo que você fica, é insano como nada mais parece fazer sentido. O que as pessoas falam, o que você sempre fez e até o que você sempre sentiu, vira tudo tão... desconectado. Sei lá, só sei que foi assim.

E é incrível como nem essa merda de fundo do poço é uma parada na qual dá pra confiar. O tempo vai passando e, mesmo que você não queira, você mesmo se vê enfiando o que te restou de unha na parede pra subir. E vai na fé, mesmo sem saber que caralhos você está fazendo. E você chega lá, na luz.

Essa luz não quer dizer merda nenhuma, sabe, e ao mesmo tempo que não tá dizendo merda nenhuma, ela não faz sentido algum, também. Você olha em volta, não lembra de como vivia sua vida de antes, não sabe muito bem como agir, pra onde ir. E o mais engraçado é que uma das coisas que mais ouvimos na vida é "se joga". Faz o que to te falando: amarra uma corda bem filha da puta em volta de você e não larga NUNCA. Se jogar é a pior merda que você pode fazer, porque é bem capaz de você se jogar num desses buracos e ficar lá. É assim que acontece.

E por mais que eu esteja continuando a escrever esse texto só um tempo depois (que eu nem lembro quanto é), é incrível o quanto isso faz mesmo sentido. Segura nessa corda, porque eu não segurei e... I almost died.
I've been so angry. So angry all the time.

É quase como se quando eu sentisse raiva fosse a única hora que me sinto viva de verdade. Parece o único sentimento real, intenso e que invade meu corpo inteiro.

Explode por dentro e vaza pela respiração, pelo sangue entrando e saindo forte pelo coração, explode na boca com palavras nervosas.

Simplesmente explode. A calma, estar serena, tranquila, parece que é quase um estado de letargia. Parece, não. É. Uma total e completa letargia. É de ver as coisas acontecendo, a vida seguindo e não sentir absolutamente nada.

Os sensos parecem que só acordam na raiva, quando tudo fica agitado, quando eu respiro.

I've been so angry.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Set the alarm before you go

Eu gosto de tudo que faz menção a sair do lugar onde estou.

Desde criança um dos meus maiores sonhos era aprender a dirigir. Quando fiz 18, mal podia conter a ansiedade. Sempre amei aviões, carros, motos de certa maneira. Qualquer coisa que significasse movimento, ir embora.

Aeroportos, então, como os amo. Sinto dentro de mim uma completude, a possibilidade de ir pra qualquer lugar, partir. Dirigir na estrada ou até mesmo em alta velocidade na ruas, qualquer coisa que me dê a sensação de estar fugindo.

A caminho de casa pego uma BR. É sempre uma tentação continuar dirigindo, não entrar no retorno, apenas seguir em frente. Já cheguei a passar três retornos por causa dessa vontade incontrolável de apenas ir embora.

Dezembro de 2011 eu fui embora. Por muito pouco tempo, mas eu fui. E eu nunca descobri tantas coisas a respeito de mim em tão pouco tempo quanto nessa distância. Eu sou mais forte e tenho mais na minha alma do que eu imaginava. 

Voltei a escrever, descobri novos sentimentos e um novo pedaço de mim, feito de pele morta do passado, começou a nascer.

Eu voltei e hoje é sempre uma dor olhar as fotos da vista da janela, a sensação de liberdade, estar a 10.000 km das raízes. A 10.000 km de qualquer coisa que me fosse familiar. É sempre uma dor essa saudade apertada que invade o peito.

E mesmo que hoje seja um nó que trago na garganta, é também um movimento que minhas pernas aprenderam. Uma rota de fuga que aponta sempre pra "ir embora". Está nos espasmos dos músculos, entre cada batida no coração e no meio de meu every thought.


Um dia... um dia eu vou embora. De vez.